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A maior aventura de um ser humano é viajar, e a maior viagem que alguém pode empreender é para dentro de si mesmo. E o modo mais emocionante de realizá-la é ler... Augusto Cury
Maria Alice tinha uma maneira muito peculiar de escolher os seus homens. Acreditava que através da observação de como eles se portavam à mesa seria possível identificar os traços mais fortes de suas personalidades.
Assim, depois de alguns relacionamentos desfeitos por absoluta incompatibilidade, ela decidiu que seria mais criteriosa na escolha de seu próximo parceiro, mesmo que isso significasse um longo período de solidão. Aprenderia a ficar só.
Fiel a seus propósitos, não aceitava convites para sair que não incluíssem almoço ou jantar. Assim, já havia descartado vários pretendentes. Aqueles que tinham a inspiração de convidá-la para ir a um restaurante, eram contemplados com sua companhia. Vários encontros se sucederam, mas o processo de seleção era rigoroso:
Joel, por exemplo, era muito educado e respeitoso, porém não se demonstrava seguro na hora de escolher o restaurante, nem sequer o prato que pediria no menu. Típico homem que não tem firmeza nas decisões. Foi, então, reprovado nos quesitos segurança e autoconfiança.
Sandro, ao contrário, era extremamente decidido. Servia-se rapidamente e da mesma forma devorava sua refeição. Não se importava com sobras ou qualidade, queria mesmo era acabar logo com aquilo. Típico comportamento egocêntrico. Devia ser essa a maneira que se relacionava com os outros: descartáveis. Este foi descartado por egoísmo e falta de sensibilidade.
Marcos levou-a ao melhor restaurante da cidade, pediu os pratos mais caros e exóticos, reservou a melhor mesa e pediu o vinho mais fino. Veredicto: exibicionista.
Samuel parecia perfeito. Atencioso, havia esperado que ela se servisse, prestou atenção na sua conversa, comeu pouco e não misturou o arroz com o molho ou o purê. Seria o eleito, não fosse ele o marido de Sandra, que se servia sempre antes e invariavelmente ainda pegava o último pedaço de carne da mesa. “Ele não merece a mulher que tem”, concluiu em seus apontamentos.
Jean, vegetariano, foi dispensado sem comentários na porta do restaurante.
Muitos foram os candidatos e os perfis se repetiram. Poucos homens causaram boa impressão, raros foram os que tiveram uma segunda chance, mas nenhum até aquele momento a havia surpreendido.
Até que um dia, num restaurante qualquer, em um almoço qualquer, sentado à mesa ao lado, estava Jacques. Ela ainda não podia ver o seu rosto, da posição em que estava, mas apaixonou-se pelo modo como ele cortava a carne. Seu prato era limpo e organizado, e não havia pressa alguma em seus movimentos. Nada desviava a sua atenção.
Maria Alice, não resistiu e, levantando-se de seu lugar, pediu permissão para sentar-se junto a ele e fazer-lhe companhia durante o almoço. Nesse momento foi que percebeu quão belo ele era.
Jacques, então, colocou-se de pé, e apresentou-se enquanto gentilmente oferecia a cadeira para que a jovem se acomodasse.
Durante a conversa, ele revelou-se encantador e Maria Alice já não continha sua excitação. Estava deslumbrada com aquele homem e a maestria com a qual ele partia seu filé. A precisão dos cortes e o prazer que demonstrava a cada mordida eram fascinantes.
Alguns jantares se seguiram e ela já estava convencida de que finalmente encontrara seu par. Envolvida, a moça entregou-se tão rapidamente a sua paixão que não percebeu ser apenas mais uma conquista, apenas mais uma vitima de sua insanidade. E foi assim que acabou Maria Alice: esquartejada pelo seu amante.
Retirado de Recanto das Letras